quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

Herança viva

2a. parte
por Danielle Girotti Callas
Em minha opinião o terceiro estágio evolutivo alcançado pela dança foi o surgimento dos espetáculos, de caráter sagrado ou profano. Nesse momento, toda a preocupação estava voltada ao público e o grande desafio sempre foi o de transmitir os sentimentos através de uma coreografia. Avançando-se na história, ao abordarmos a arte coreográfica, inevitavelmente falaremos da França do Rei Sol. A essência do balé clássico surgiu com o Rei Sol. Talvez, muito do perfeccionismo e das linhas clássicas e herméticas do balé tenham partido involuntariamente do estilo de Luís XIV.

Luís XIV foi consagrado politicamente por gerar a monarquia absoluta de origem divina, por fazer triunfar uma unidade religiosa na França, e por lançar a idéia de progresso e espírito crítico. Admirado até por seus inimigos, Luís XIV ousava por confiar em sua inteligência superior e por regrar seus atos pelo amor à glória. Ele transformara o campo de caça de Luís XIII no glorioso Palácio de Versailles, onde passou amorar no início de seu reinado. Toda a decoração foi criada por ele e para ele. A idéia de levar consigo toda a corte francesa tinha como objetivo intrínseco o de domesticar e o de agradar através de uma política de troca de favores e pagamento de pensões os cortesãos. Dessa forma, afastou-se da massa e manipulou influências, impossibilitando qualquer ato de revolta popular. Foi com ele que surgiram os cerimoniais e os rituais que hoje denominamos “etiqueta”, pois tudo era executado meticulosamente em função de suas vontades e caprichos. Para citar: o seu despertar matutino e o seu recolher noturno era observado por dezenas de cortesãos. Outro mérito seu foi dar continuidade às Academias. O governo dirigia a vida intelectual da mesma forma que dirigia a vida econômica: Richelieu e a “Academia para garantir o bom uso da língua”, Mazarin e a Academia de Pintura e Escultura. Ao invés da vitalidade exuberante dos estilos anteriores a Luís XVI, prevaleceu a vitória do gosto clássico literário: composição, métrica e certa grandeza calam que remetiam-se à influência do Rei Sol. Foi a época de rica diversidade literária e de harmonia entre grandes mestres: Molière, Racine, La Fontaine, Bossuet e até Fénelon. Não somente na literatura, como também em outros domínios fez-se imperar o estilo Luís XIV. Para citar a arquitetura e decoração do Louvre, Versailles, Marly, Invalides trabalhados por Le Vau, Mansart, Perrault (consagrados arquitetos), Girardon e Coysevox (consagrados escultores). Da mesma forma, privilegiava os músicos e especialmente o italiano Lulli grande responsável pelo surgimento da ópera na França.Com a multiplicação das Academias e com a unificação criada entre os diversos ramos artísticos, Paris expandia seus horizontes culturais. Todo esse movimento foi dirigido pelo Rei Sol, que discutia seus projetos e impunha seu gosto. Gosto esse fortemente caracterizado pela regularidade, pela distinção, pelo o que havia de grandioso.
(esta é a continuação do texto "A Dança como Arte - Heranças de Luis XIV"; a continuação segue na próxima postagem. Este texto foi extraído da Revista do Autor - www.revistaautor.com.br).

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