Uai Q Dança resgata a Saudade

por Manuela Garcia, do Correio de Uberlândia

Você sente saudade de quê? A Companhia Uai Q Dança propõe essa indagação ao público no espetáculo "SEM", que será apresentado (no próximo final de semana), no palco de arte da escola. Em uma performance que mescla Dança Contemporânea e Dança-Teatro, cinco bailarinas vão mostrar um trabalho envolvendo aspectos que despertam saudades universais e particulares. O resultado é um convite aos espectadores a fazer uma reflexão sobre o tema, tão comum na vida das pessoas, mas que nem sempre é abordado.

O próprio nome já diz tudo. No dicionário, a palavra "sem" é definida como uma preposição que indica ausência, falta ou privação, conceitos que condizem exatamente com o espírito do espetáculo. "Essa ausência que a palavra sugere está presente no espetáculo em todos os momentos e de várias formas", adianta uma das bailarinas, Iara Schmidt.

SEM pode significar ainda uma sigla: Sempre Em Movimento. "Criamos esse significado no decorrer da concepção do trabalho, porque a saudade não é estática. Você pode sentir falta de uma coisa que aconteceu há anos ou que aconteceu ontem, até 10 minutos atrás. Estamos substituindo o objeto saudoso o tempo todo", avalia a diretora coreográfica Fernanda Bevilaqua.

Iluminação e trilha sonora diversificada são componentes essenciais para uma noite que, segundo Fernanda, será cheia de surpresas. "A idéia é mostrar as implicações da saudade no corpo, tempo e espaço. Para isso, a individualidade de cada componente será apresentada de forma esmiuçada, ao mesmo tempo em que se faz um apanhado geral, baseado em todo o preparo que tivemos para finalizar esse trabalho", explica.

Preparação: O processo de criação da coreografia durou um ano. Nos primeiros seis meses, as bailarinas fizeram um laboratório, que exigiu muita dedicação e disponibilidade. "Primeiro, propusemos que elas levassem para o ensaio um objeto pessoal e um som que provocasse esse sentimento e falar sobre eles, contando sua história. Foi assim que elas mesmas construíram a própria dramaturgia", conta Fernanda.

A segunda parte da tarefa foi uma dinâmica em que as componentes escreveram à mão uma carta e enviaram a uma pessoa de quem cada uma sentia falta. No texto, elas pediam que essas pessoas respondessem para dar continuidade ao laboratório. "Essas pessoas também fizeram esse mesmo processo com outras, e nos enviaram para nos auxiliar na composição da dança. Foi surpreendente, porque cada um mostrou um lado do sentimento que nós nem imaginávamos que existia", conta a diretora coreógrafa.

A partir dessas duas ações, as bailarinas fizeram uma lista com tudo que elas sentiam saudade. "Depois do resgate do sentimento nas bailarinas, começamos a eleger prioridades para aprofundar o assunto e construir as cenas", ressalta Fernanda. Além desse laboratório, a equipe utilizou textos de antropologia e poemas para que o trabalho ficasse completo.

Até a figurinista Tainah Marques participou da dinâmica, para que as roupas também acompanhassem esse saudosismo. "Eu utilizei estampas, cores e textura dos tecidos que despertam saudade no íntimo de cada uma. A escolha se deu por meio de entrevistas individuais e fotos, porque elas não estão representando, e sim sendo elas mesmas", enfatiza.

Depois de tanta preparação, Iara Schmidt não esconde a expectativa. "É uma ansiedade muito grande por dançar. É como se fôssemos pegar o resultado de todo esse processo e entregar ao público dizendo ?Toma, essa é a minha saudade?. Cada um que receber esse presente deve tirar a mensagem que seu universo mandar", conclui.

Serviço: O espetáculo "SEM" (já apresentado nos dias 21 e 22 de Outubro) será apresentado nos dias 27 e 28 do mesmo mês, sempre às 20h30, no palco de arte da Companhia Uai Q Dança. O endereço é rua Coronel Manoel Alves, 22, bairro Fundinho. A entrada é franca e os convites devem ser retirados na portaria, com uma hora de antecedência.

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