Selecionado pelo Programa Rumos, do Itaú Cultural, o cearense Graco Alves conclui a montagem de “Magno-Pirol: o corpo na loucura”
Há muito, o suposto corpo insano tem feito os palcos reajustar suas idéias.O francês Antonin Artaud (1896-1948), por exemplo, teve seu teatro brutalmente demarcado pelos anos em que vivera recluso em hospitais psiquiátricos. Assim, deixou de herança à escrita cênica, um corpo rebelde, disforme, intrigante e, ao mesmo tempo, fascinante. Artaud, porém, não é caso único: a arte e a dita loucura nunca esconderam afinidades.
O cearense Graco Alves sabe bem disso. Transitando entre o teatro e a dança, faz questão de lembrar ainda o bailarino e coreógrafo russo Vaslav Nijinsky (1890-1950), com narrativa de vida também marcada pela passagem por manicômios. No entanto, não é como ode a gênios incompreendidos que ele alinhavou as cenas de “Magno-Pirol: o corpo na loucura”. Premiado pelo Programa Rumos, do Itaú Cultural, ele diz ter voltado seu olhar para o que chama de “louco comum” (o que não, vale dizer, significa nenhum viés estereotipado). “Em pleno século XXI, com todo o avanço da ciência, a loucura ainda é um dilema na sociedade. Os jornais estão sempre noticiando casos de pessoas com transtornos mentais sendo mantidas em cárcere privado por suas próprias famílias. É este corpo negado socialmente que me interessa”, afirma o bailarino e coreógrafo.
(in http://diariodonordeste.globo.com)
Um comentário:
Antonin Artaud (Marselha, 4 de setembro de 1896 - Paris, 4 de março de 1948) foi um poeta, ator, roteirista e diretor de teatro francês.
Em 1937, Antonin Artaud, devido a um incidente, é confundido com um louco. Internado e maltratado em vários manicômios franceses, ele é transferido após seis anos para o hospital psiquiátrico de Rodez, onde permanece ainda três anos.
Em Rodez, Artaud estabelece com o Dr. Ferdière, médico-responsável do manicômio, uma intensa correspondência. Uma relação ambígua se estabelece entre os dois: o médico reconhece o valor do poeta e o incentiva a retomar a atividade literária mas, julgando a poesia e o comportamento de seu paciente muito delirante, ele o submete a tratamentos de eletrochoque que prejudicam sua memória, seu corpo e seu pensamento.
Existe aqui um afrontamento entre dois mundos, o da medicina e razão social e o do poeta cuja razão ultrapassa a lógica normal do “homem saudável”.
As cartas escritas de Rodez são para Artaud um recurso para não perder sua lucidez. Elas revelam um homem em terrível estado de sofrimento, nos falando de sua dor através de uma escritura mais íntima e mais espontânea. São os diálogos de um desesperado com seu médico e através dele com toda a sociedade.
“Não quero que ninguém ignore meus gritos de dor e quero que eles sejam ouvidos”.
Para Artaud, o teatro é o lugar privilegiado de uma germinação de formas que refazem o ato criador, formas capazes de dirigir ou derivar forças.
Em 1935 Artaud conclui o "Teatro e seu Duplo" (Le Théâtre et son Double), um dos livros mais influentes do teatro deste século. Na sua obra ele expõe o grito, a respiração e o corpo do homem como lugar primordial do ato teatral, denuncia o teatro digestivo e rejeita a supremacia da palavra. Esse era o Teatro da Crueldade de Artaud, onde não haveria nenhuma distância entre ator e platéia, todos seriam atores e todos fariam parte do processo, ao mesmo tempo.
Em Rodez, além de suas cartas (lettres au docteur Ferdière) ele elabora uma prática vocal, apurada dia a dia, associada à manifestações mágicas. A voz bate, cava, espeta, treme, a palavra toma uma dimensão material, ela é gesto e ato.
Artaud volta a Paris em 1946, onde dois anos depois é encontrado morto em seu quarto no hospício do bairro de Ivry-sur-Seine. Neste período, além de uma importante produção literária ele desenha, prepara conferências e realiza a emissão radiofônica "Para acabar com o juízo de Deus" (Pour en finir avec le jugement de dieu), onde sua vontade expressiva se alia a um formalismo cuidadoso.
Se nos anos 30 o teatro para Artaud é “o lugar onde se refaz a vida”, depois de Rodez ele é essencialmente o lugar onde se refaz o corpo. O “corpo sem órgãos” é o nome deste corpo refeito e reorganizado que uma vez libertado de seus automatismos se abre para “dançar ao inverso”.
“A questão que se coloca é de permitir que o teatro reencontre sua verdadeira linguagem, linguagem espacial, linguagem de gestos, de atitudes, de expressões e de mímica, linguagem de gritos e onomatopéias, linguagem sonora, onde todos os elementos objetivos se transformam em sinais, sejam visuais, sejam sonoros, mas que terão tanta importância intelectual e de significados sensíveis quanto a linguagem de palavras.”
O seu trabalho ainda inclui, ensaios e roteiros de cinema, pintura e literatura, diversas peças de teatro, inclusive uma ópera, notas e manifestos polêmicos sobre teatro, ensaios sobre o ritual do cacto mexicano peyote entre os índios Tarahumara (Les Tarahumaras), aparições como ator em dois grandes filmes e outros menores.
(extraído da Wikipédia - http://pt.wikipedia.org/wiki/Antonin_Artaud)
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