por Camila do Amaral
Desde que comecei a escrever sobre dança, sempre quis falar aos leitores um pouco sobre seus diferentes gêneros. A intenção é esclarecer dúvidas não só de leigos, mas também de muitos praticantes que se restringem a um único estilo. Penso que a relevância de conhecer mais sobre outros gêneros é poder apreciá-los melhor. Nos festivais de dança, por exemplo, a diversidade é muito grande e o público chega a assistir, num mesmo dia, a espetáculos de ballet popular, moderno, contemporâneo, clássico, dança de salão, flamenco e dança do ventre. Muitos assistem até com certa empolgação e curiosidade a espetáculos cujos estilos de dança desconhecem, porém não conseguem compreender claramente as propostas do grupo que está no palco. Outros chegam a criticar a coreografia, a iluminação, a trilha sonora, o figurino e até mesmo a técnica dos dançarinos por simples falta de conhecimento. Como já disse anteriormente, a dança está a serviço da necessidade de comunicação dos seres humanos, mas como estabelecer um processo comunicativo se o receptor desconhece a linguagem utilizada? Por isso, inicio hoje a primeira coluna da série que nomeei de A dança e seus estilos. Para começar, escolhi um dos gêneros mais antigos e, conseqüentemente, de histórico mais extenso: o Ballet clássico.
A história do ballet clássico começou há mais de 500 anos na Itália. Nessa época os nobres italianos divertiam seus ilustres visitantes com espetáculos de poesia, música, mímica e dança. Quando a italiana Catarina de Médici casou com o rei francês Henrique II, introduziu esse tipo de espetáculo na corte francesa, com grande sucesso. O ballet tornou-se uma regularidade na França e atingiu o auge de sua popularidade quase 100 anos mais tarde com o rei Luiz XIV, que transformou a dança em uma profissão, transferindo os espetáculos de ballet para os teatros.
Até o século XVII, todos os bailarinos eram homens, que também interpretavam papéis femininos. Mas, no final desse século, a Escola de Dança Francesa passou a formar mulheres, que logo ganharam importância no meio. No início do século XVIII, os fundamentos do ballet já estavam estabelecidos. No entanto, os espetáculos continuavam a ser uma combinação de dança, canto e música, sendo que o canto quase sempre predominava. Em 1789, poucos dias antes da queda da Bastilha, o coreógrafo Dauberval fez da dança uma arte autônoma, colocando no palco La Fille Mal Gardée, o mais antigo balé de repertório dançado até hoje. Este foi o primeiro balé de estilo cômico e um dos primeiros a incluir realismo no lugar de mitologia e de personagens idealizados.
Porém, com a Revolução Francesa, a dança passou por um período de ostracismo. Esta época foi caracterizada pela ascensão da burguesia e pela decadência da nobreza, que financiava e apoiava o ballet. Com a censura burguesa, várias peças foram proibidas. Apesar disso, o Romantismo do século XIX viria para dar novo impulso às artes. Na dança, esse movimento foi inaugurado pela bailarina Marie Taglioni, portadora do tipo físico ideal ao Romantismo, para quem foi criado o ballet La Sylphide, que retrata imagens de ninfas, fadas, bruxas e mitos sobrenaturais. Nele, a bailarina se movia no palco com inacreditável agilidade na ponta dos pés, dando a impressão de que saía do chão. Este foi o primeiro grande ballet romântico que iniciou o trabalho nas sapatilhas de ponta.
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