Uma visita ao Instituto Tomie Ohtake impressiona. Impressiona o complexo arquitetônico que o abriga, as atividades educativas oferecidas, as mostras de artes plásticas apresentadas. Impressiona saber que tal empreendimento cultural consegue - apesar de todos os obstáculos típicos de um país que, abertamente, faz questão de virar as costas para a cultura e o conhecimento - implementar projetos e frutificar ações. E já se vão cinco anos de lutas... Impressiona da mesma forma que o trabalho e a trajetória de Tomie Ohtake impressionam.
Para comemorar seus cinco anos de fundação, o Instituto Tomie Ohtake promove a exposição "Tomie Gráfica", uma retrospectiva dos trabalhos em gravura da célebre artista nascida no Japão, uma das maiores expoentes da contemporaneidade artística brasileira. Confira aqui, em Renascence Ballet, texto de apresentação da exposição que vai de 23 de Novembro de 2006 até 21 de Fevereiro de 2007, publicado no site do ITO (www.institutotomieohtake.org.br)
Nesta exposição, a primeira de uma série de quatro que comemora os 5 anos do Instituto Tomie Ohtake, a artista que lhe dá o nome evidencia como a gravura é, e sempre foi, seu campo inesgotável de experiências.
Experimentalismo incomum para a técnica milenar, a obra em gravura de Tomie surpreende não só pela inovação, como também por uma fecunda produção que resulta hoje em cerca de 400, realizadas em séries ou individualmente.
Técnica que domina desde o final dos anos 60, Tomie vem superando suas possibilidades para avançar na pesquisa de linguagem, como aponta esta mostra que reúne 75 trabalhos, realizados entre 1968 e 2005. De 1968 até 1974, Tomie utiliza-se da serigrafia e da litografia e, a partir de 1987, passa a trabalhar com chapas de metal.
Desde a década de 90, Tomie vem intensificando sua forma ímpar de trabalhar o suporte. Em 1996, cria "Grandes Formatos", na qual três unidades de imagens são compostas pela verticalidade e pelo raciocínio construtivo, resultando em um tamanho inédito para a gravura 280 x 70 cm. Com múltiplas possibilidades de arranjo, resguarda a autonomia de cada imagem que se coletiviza na justaposição com as outras. Em 1997, destaca-se a série que fez com Haroldo de Campos, o álbum Yu-Gen, composto por doze trabalhos - imagens de Tomie e poemas de Haroldo - inspirados no Japão. Em 1999, desafia a bidimensionalidade do suporte, criando formas recortadas e montadas em vidro, transformando, por meio da sombra que a forma projeta, a gravura em objeto.
A série mais recente (2005), em formato de 220 x 30 cm, foi criada para ocupar ângulos de 90 graus, ou seja, pode ser colocada verticalmente, no teto e parede, ou horizontalmente, na quina de duas paredes. A obra avança de uma parede à outra, expandindo seu tradicional espaço de ocupação.
As gravuras de Tomie ganharam reconhecimento internacional, desde 1972, quando foi convidada a participar da sala Grafica D'Oggi na Bienal de Veneza - exposição que contou com a presença dos mais importantes artistas do mundo, como os norte-americanos da Pop Art -, além de sua participação na Bienal de Gravura de Tóquio, em 1974, tradicional mostra internacional desta técnica.
O Instituto Tomie Ohtake comemora 5 anos, realizando uma série de quatro exposições: Tomie Gráfica (22/11), Carmela Gross (28/11), Siron Franco (5/12) e Jose Guadalupe Posada (12/12). Desde a sua inauguração, em novembro de 2001, já concebeu e realizou 80 exposições em suas instalações e 30 em outros espaços, contabilizando dois prêmios oficiais com as mostras: Sonhando de Olhos Abertos - Dadá e Surrealismo, Prêmio ABCA - Associação Brasileira dos Críticos de Arte, como a melhor do Brasil no ano de 2004; e Nuno Ramos, Prêmio Bravo de Melhor Exposição de 2006. Conta ainda com um forte programa educativo que enfoca a formação de professores, principalmente da rede pública, ao mesmo tempo em que intensifica pesquisas no campo da arte e do ensino da arte. O Instituto Tomie Ohtake não recebe verba sistemática pública ou privada, vive exclusivamente de patrocínios para cada projeto e de prestação de serviços.
Tomie Gráfica
de 23 de novembro 2006 à 21 defevereiro 2007, de terça à domingo,
das 11 às 20 horas.
Entrada gratuita
O Instituto Tomie Ohtake fica na Av. Faria Lima, 201 - Pinheiros
telefone: (11) 2245 1900
Um comentário:
Tomie Ohtake, junto de Manabu Mabe, Fukushima, e outros grandes nomes que não nos vêm na memória no presente momento, é uma das grandes expoentes da imaginária Missão Artística Nipônica que, no século XX, chegou até nosso país, a fim de trazer uma nova luz e um novo sentir para as artes plásticas brasileiras. Tomie, além das diversas exposições que em mais de 90 anos promoveu, tem pela cidade de São Paulo, monumentos e gravuras expostas, atestando o reconhecimento público de uma trajetória criativa cativante e referêncial. Assim como referenciais se tornaram as obras desses grandes desbravadores espirituais vindos do Oriente, que em livros ou até, em vinhetas para a televisão - Mabe fez uma para a extinta Manchete, registram a aventura poética essencial do olhar pleno de amplitude e realização.
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