sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

A Nova Idade Média

por Marcelo Costa
Scream & Yell

A Indústria da Música está em coma, respira por aparelhos, mas continua vivendo em uma bela mansão repleta do bom e do melhor. Ela ainda sobrevive – e fatura milhões – em um mercado cujos dias estão contados, mas lamenta os dias de bonança que viveu décadas atrás, antes da Internet democratizar a distribuição da música e o MP3 derrubar o comércio de discos.

É interessante perceber que a discussão sobre a ética que envolve a distribuição de música pela Internet junta pessoas tão dispares quanto o frontman de uma das bandas britânicas mais barulhentas dos anos 80 com um dos baluartes da música brega sertaneja que dominou o mercado brasileiro no final da mesma década. Jim Reid e Zezé di Camargo simbolizam o homem desacostumado com os novos tempos, aquele que não percebe que o mundo mudou e que o passado é uma roupa que não nos serve mais.

O disco de vinil surgiu em 1948, substituindo os obsoletos discos de goma-laca de 78 rotações, que até então eram utilizados para vender música em série. A década de 50 marca o início da popularização da música de massa, mas foi nos anos 60 que o cenário tomou proporções estratosféricas. O disco mais vendido dos anos 50, “Elvis’ Christmas Album”, totalizou 7 milhões de cópias. Na década seguinte, o Álbum Branco, dos Beatles, somava quase três vezes aquele número: 19 milhões de cópias vendidas.

O que está acontecendo neste momento da história é que vivemos uma revolução sem precedentes, e muitas pessoas – principalmente as que vivem com os lucros da Indústria – ainda querem utilizar um método antigo e arcaico de comercializar e negociar música sem perceber que o mundo mudou, as ferramentas mudaram, e é preciso adaptar-se aos novos tempos. A Internet e as novas tecnologias facilitaram o ato de fazer música e distribuí-la. A cada dia que passa, a Indústria perde poder.

Mais do que qualquer coisa, é interessante observar que vinil, CD e fita K7 são suportes ultrapassados que só interessam a quem viveu os anos dourados da Indústria da Música. Adolescentes que desconhecem estes suportes e acostumaram-se a baixar músicas pela web nunca vão comprar um disco, pois aprenderam a ter isso de graça. Mais do que um problema ético, estamos diante de um símbolo de liberdade. Agora, cada pessoa ouve a música que quiser. Um disco a um clique do mouse.

“Como ganhar dinheiro com a minha arte?”, perguntam os músicos. Fazendo shows, caros amigos, fazendo shows. Estamos voltando à Idade Média. Estamos diante de um novo Renascimento. Naquela época, os artistas não tinham suportes que os permitiam vender sua música em série, e mostravam sua arte apresentando-se de cidade em cidade. Clichês repetidos a exaustão entram na pauta do dia: “O artista vai onde o povo está” ou “Quem sabe faz ao vivo”.

É por tudo isso que Matt Berninger, do grupo novaiorquino The National, agradeceu à Internet no show que fez em São Paulo, no Tim Festival. Foi ela quem possibilitou que as pessoas conhecessem sua música, e produtores os trouxessem ao Brasil, mesmo sem o grupo não ter tido nenhum de seus quatro discos lançados no país. O mesmo aconteceu com o grupo Spoon, show elogiado do Festival Planeta Terra, com nenhum disco lançado no Brasil, mas o público cantando em coro várias canções. Novos tempos.

Vivemos um momento extraordinário da história, um momento em que as novidades surgem todos os dias e qualquer coisa pode acontecer. É perfeitamente entendível que algumas pessoas queiram continuar vivendo como viviam há dez, vinte, trinta anos atrás, mas é preciso perceber que o mundo está mudando, e que certos dogmas precisam ser adaptados ao novo momento que está surgindo. E pensar que se a Indústria está morrendo, a Música está cada vez mais viva. O Rei está morto. Viva o Novo Rei.

(in http://www.screamyell.com.br/)

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