
por Clóvis Marques, do Opnião e Notícia
Ela tem um nome quase impronunciável (junção do seu, Gosman, com o do marido, Bruegger), uma voz, um ‘look' e uma presença que estão causando sensação nos melhores palcos do mundo e, pasmem, veio cantar no Rio em plena ascensão de sua carreira internacional.
Measha Brueggergosman é uma canadense de trinta anos que caiu nas graças da Deutsche Grammophon, que está lançando o primeiro fruto do contrato que assinaram: o CD "Surprise", com canções de cabaré de Schönberg, Satie e do americano William Bolcom.
Measha Brueggergosman é uma canadense de trinta anos que caiu nas graças da Deutsche Grammophon, que está lançando o primeiro fruto do contrato que assinaram: o CD "Surprise", com canções de cabaré de Schönberg, Satie e do americano William Bolcom.
Terá sido para movimentar o lançamento ‘mundial' do disco que se facilitaram as coisas para a vinda ao Brasil - momento raro! - de uma voz jovem e mais que promissora. No Rio, ainda mais que em São Paulo, estamos mais habituados a ouvir grandes cantores em fim de carreira...
Destacada recentemente pela revista britânica Gramophone como uma das sopranos do momento, Brueggergosman cantará esta segunda-feira na Sala Cecília Meireles acompanhada, na primeira parte, pelo pianista David Eliakis (canções de Poulenc, Motsalvage, Satie...) e, na segunda, por uma formação da Orquestra Petrobras Sinfônica regida por Gil Jardim (as Bachianas brasileiras nº 5, de Villa-Lobos, obras de Chausson e Gershwin).
Destacada recentemente pela revista britânica Gramophone como uma das sopranos do momento, Brueggergosman cantará esta segunda-feira na Sala Cecília Meireles acompanhada, na primeira parte, pelo pianista David Eliakis (canções de Poulenc, Motsalvage, Satie...) e, na segunda, por uma formação da Orquestra Petrobras Sinfônica regida por Gil Jardim (as Bachianas brasileiras nº 5, de Villa-Lobos, obras de Chausson e Gershwin).
Tendo orientado sua carreira até agora mais para os recitais que a ópera, ela conversou comigo rapidamente, por telefone, durante uma prolongada espera no aeroporto de São Paulo.
Como o canto entrou em sua vida?
M. B.: Eu comecei muito cedo, aos sete anos de idade. Meu pai trabalhava numa estação de rádio especializada em música clássica, e desde pequena convivi com esse repertório. Foi o caminho pelo qual construí minha vida.
Como tem sido seu trabalho com a voz?
M. B.: Eu me sinto muito feliz por ter podido estudar com grandes mestres. Foi muito bom ter estudado com excelentes professores durante mais de vinte anos, mantendo a saúde da voz, mas também me mantendo inspirada e me sentindo desafiada. Cantar para mim é sempre uma alegria, mas também um desafio. Quanto mais velha fico, quanto mais canto, mais me dou conta de que cantar é uma questão de comunicar algo. E o que ajuda o cantor a se comunicar é uma técnica sólida.
Como desenvolveu a sua?
M. B.: Em qualquer instrumento ‘de sopro', como a voz, o que é único é o fato de que o corpo inteiro tem de trabalhar no ritmo; não só fazer um som, mas também formar palavras e fazer com que elas façam sentido. E além disso, também, fazer boa música. Muitas coisas têm de acontecer simultaneamente, e passamos a vida inteira tentando criar um equilíbrio que torne isto mais fácil.
Como descreveria sua voz?
M. B.: Mas que pergunta horrível! Eu seria capaz de descrever um som que ouço na cabeça, mas não estarei descrevendo o que o público ouve. É mais ou menos uma relação de amor e ódio, pois cantar é algo que me dá muita satisfação, mas também representa um enorme desafio. Acho que os músicos devem estar sempre mais interessados no processo, no caminho a ser percorrido, do que no resultado.
Como organizou seu recital no Rio?
M. B.: Começamos com Poulenc e vamos para um grupo variado, com Satie, Montsalvage e Bolcom. Gosto de fazer um apanhado bem amplo do que pode ser a experiência de um recital, ao mesmo tempo abrindo espaço para canções compostas no século XX em várias partes do mundo. Muita gente tem uma idéia equivocada do que é a música do século XX, e muitas vezes, quando organizo um programa, me vejo atraída sobretudo pelos compositores dessa época.
William Bolcom não é conhecido no Brasil.
M. B.: Bolcom é provavelmente um dos maiores compositores americanos vivos. Encontramo-nos dias atrás na Universidade de Michigan, e sempre que um cantor ou musicista pode interpretar obras de um músico vivo, deve aproveitar a oportunidade. Bolcom é um excelente pianista, nós nos apresentamos juntos, e foi assim que começou nosso relacionamento. Minha gravadora, a Deutsche Grammophon, pediu a ele que orquestrasse suas próprias canções de cabaré para o disco que acabei de gravar.
Neste momento especial de sua carreira, como tem sentido seu público? Diria que a arte do canto lírico ainda exerce atração sobre públicos novos?
M. B.: A arte de formar um programa de recital é uma parte importante do empenho de atrair públicos. O importante é a gente saber aonde está indo, dirigir-se ao público numa língua que ele conheça. É importante que o público seja levado em conta no planejamento do que você vai fazer. É desafiador e emocionante entrar numa sala fechada, sentir a presença do público - é algo que amo, se não amasse não o faria. São diversos fatores determinando qual o sentimento de uma apresentação - o país, a sala, o piano, o maestro e a orquestra -, mas é sempre uma experiência vibrante.
Por que a ópera não tem estado muito presente em sua carreira até agora?
M. B.: Acabei de completar trinta anos, e queria estar certa de que o desenvolvimento de meu repertório seria saudável para minha voz. Quando somos mais jovens, é mais difícil controlar a técnica e ao mesmo tempo desenvolver a habilidade necessária para ser uma grande musicista. A ópera pode estar vindo para a minha vida. O predomínio dos recitais até agora era para me certificar daquilo em que sou boa. Até agora, os projetos de ópera que me foram apresentados não eram muito interessantes. Meu primeiro personagem operístico foi Madame Lidoine no "Diálogo das carmelitas", de Poulenc, um papel que amo. Este ano, vou fazer Electra no "Idomeneo" de Mozart, em Toronto.
Clóvis Marques é jornalista de música clássica, tendo colaborado no Jornal do Brasil. Colunista da revista Concerto, publicou Mário Tavares, uma vida para a música e Sala Cecília Meireles, 40 anos de música.
Como o canto entrou em sua vida?
M. B.: Eu comecei muito cedo, aos sete anos de idade. Meu pai trabalhava numa estação de rádio especializada em música clássica, e desde pequena convivi com esse repertório. Foi o caminho pelo qual construí minha vida.
Como tem sido seu trabalho com a voz?
M. B.: Eu me sinto muito feliz por ter podido estudar com grandes mestres. Foi muito bom ter estudado com excelentes professores durante mais de vinte anos, mantendo a saúde da voz, mas também me mantendo inspirada e me sentindo desafiada. Cantar para mim é sempre uma alegria, mas também um desafio. Quanto mais velha fico, quanto mais canto, mais me dou conta de que cantar é uma questão de comunicar algo. E o que ajuda o cantor a se comunicar é uma técnica sólida.
Como desenvolveu a sua?
M. B.: Em qualquer instrumento ‘de sopro', como a voz, o que é único é o fato de que o corpo inteiro tem de trabalhar no ritmo; não só fazer um som, mas também formar palavras e fazer com que elas façam sentido. E além disso, também, fazer boa música. Muitas coisas têm de acontecer simultaneamente, e passamos a vida inteira tentando criar um equilíbrio que torne isto mais fácil.
Como descreveria sua voz?
M. B.: Mas que pergunta horrível! Eu seria capaz de descrever um som que ouço na cabeça, mas não estarei descrevendo o que o público ouve. É mais ou menos uma relação de amor e ódio, pois cantar é algo que me dá muita satisfação, mas também representa um enorme desafio. Acho que os músicos devem estar sempre mais interessados no processo, no caminho a ser percorrido, do que no resultado.
Como organizou seu recital no Rio?
M. B.: Começamos com Poulenc e vamos para um grupo variado, com Satie, Montsalvage e Bolcom. Gosto de fazer um apanhado bem amplo do que pode ser a experiência de um recital, ao mesmo tempo abrindo espaço para canções compostas no século XX em várias partes do mundo. Muita gente tem uma idéia equivocada do que é a música do século XX, e muitas vezes, quando organizo um programa, me vejo atraída sobretudo pelos compositores dessa época.
William Bolcom não é conhecido no Brasil.
M. B.: Bolcom é provavelmente um dos maiores compositores americanos vivos. Encontramo-nos dias atrás na Universidade de Michigan, e sempre que um cantor ou musicista pode interpretar obras de um músico vivo, deve aproveitar a oportunidade. Bolcom é um excelente pianista, nós nos apresentamos juntos, e foi assim que começou nosso relacionamento. Minha gravadora, a Deutsche Grammophon, pediu a ele que orquestrasse suas próprias canções de cabaré para o disco que acabei de gravar.
Neste momento especial de sua carreira, como tem sentido seu público? Diria que a arte do canto lírico ainda exerce atração sobre públicos novos?
M. B.: A arte de formar um programa de recital é uma parte importante do empenho de atrair públicos. O importante é a gente saber aonde está indo, dirigir-se ao público numa língua que ele conheça. É importante que o público seja levado em conta no planejamento do que você vai fazer. É desafiador e emocionante entrar numa sala fechada, sentir a presença do público - é algo que amo, se não amasse não o faria. São diversos fatores determinando qual o sentimento de uma apresentação - o país, a sala, o piano, o maestro e a orquestra -, mas é sempre uma experiência vibrante.
Por que a ópera não tem estado muito presente em sua carreira até agora?
M. B.: Acabei de completar trinta anos, e queria estar certa de que o desenvolvimento de meu repertório seria saudável para minha voz. Quando somos mais jovens, é mais difícil controlar a técnica e ao mesmo tempo desenvolver a habilidade necessária para ser uma grande musicista. A ópera pode estar vindo para a minha vida. O predomínio dos recitais até agora era para me certificar daquilo em que sou boa. Até agora, os projetos de ópera que me foram apresentados não eram muito interessantes. Meu primeiro personagem operístico foi Madame Lidoine no "Diálogo das carmelitas", de Poulenc, um papel que amo. Este ano, vou fazer Electra no "Idomeneo" de Mozart, em Toronto.
Clóvis Marques é jornalista de música clássica, tendo colaborado no Jornal do Brasil. Colunista da revista Concerto, publicou Mário Tavares, uma vida para a música e Sala Cecília Meireles, 40 anos de música.
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