por Eliana Caminada
"É um grande prazer para mim tomar parte nessa criação; não somente pelo amor a Tchaikovski, mas também pela minha profunda admiração pelo Ballet Clássico, o qual, em sua essência, pela beleza de sua ordonnance - organização - e aristocracia austera de suas formas, corresponde, de maneira tão próxima, a minha concepção de arte. De fato, na Dança Clássica, vejo o triunfo da concepção estudada sobre a imprecisão, da regra sobre o arbítrio, da ordem sobre o casual. Estou assim, face a face, com o eterno conflito entre os princípios apolíneos e dionisíacos. O último assume o êxtase como meta final - ou seja, a perda de mim mesmo-, enquanto que a arte demanda, acima de tudo, a total consciência do artista. Aí, não duvido sobre minha escolha entre os dois. E, se aprecio tanto o valor do Ballet Clássico não é, simplesmente, uma questão de gosto da minha parte; é que vejo nele, exatamente, a mais perfeita expressão dos princípios de Apolo."
Estas palavras não foram proferidas por nenhum bailarino, mas por Igor Stravinski referindo-se à produção de "A Bela Adormecida" dos "Ballets Russes de Diaghilev" encenada em Londres em 1921. Como o grande compositor, eu também amo o Ballet Clássico, ainda que não negue a eterna dualidade que é inerente à arte e, portanto, ao Ballet, enquanto expressão de/a vida. Meu amor está alicerçado na convicção de que o Ballet não é apenas uma arte universal e atemporal; ele é também uma técnica secular, que ainda não foi - e creio que nunca será - superada como instrumento para conferir ao corpo plasticidade, expressividade e autonomia.
A Dança, pensada e aplicada como atividade subordinada a essa técnica baseada na razão e na imaginação criadora, é capaz de transformar a opção pelo palco numa realização corporal, espiritual e pscológica de prazer. Mais do que isso, o Ballet é uma dança profundamente reveladora do interior do artista, traiçoeira, até, quando nos julgamos senhores do que transmitimos. O Ballet é a dança da honestidade, do longo e seguro caminho que envolve uma erudição quase purificatória.
(in www.portaldafamilia.org.)
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