Por Tatiana Chiari, da Revista Bravo
Panoramas e mostras de dança paulistas normalmente são espaço privilegiado para o que há de melhor na produção de Rio de Janeiro e São Paulo e para nomes consagrados ou novidades que vêm de fora do Brasil. Em fevereiro/07, o Panorama Sesi de Dança quebra essa regra. O destaque dos nove dias de programação serão cinco companhias e dois intérpretes mineiros. E por que Minas? Não é novidade que o estado sempre foi celeiro da dança brasileira. Duas das mais conhecidas e respeitadas companhias levam arte de Belo Horizonte para o mundo há décadas: o Grupo Corpo e o 1º Ato. Mas a lente da curadora Ana Francisca Ponzio apontou grupos jovens ou pouco conhecidos fora de Minas que têm trabalhos maduros e conectados com o que há de mais moderno na dança contemporânea.
Em Belo Horizonte convivem grupos recém-formados e outros com muitos anos de estrada e experimentações, como a Cia. de Dança do Palácio das Artes, nascida em 1971. A companhia desembarca completa em São Paulo, com 21 bailarinos, para apresentar o inédito Transtorna. A Benvinda Cia. de Dança nasceu no começo da década de 90, mas já com a maturidade da corajosa bailarina Dudude Hermmann como bagagem. Dudude e sua companhia sabem lidar como poucos com o orgânico da dança. Movimentos espontâneos, sem formas clássicas, sem fórmulas prontas. Na mesma cena estão grupos jovens, mas com muito a dizer, como a Quick Cia. de Dança, que nasceu em 2000, e a Cia. Mário Nascimento. A última só não estará no Panorama porque participou da última edição do evento. Nascimento é o coreógrafo do espetáculo Quatro, trazido pelo Camaleão Grupo de Dança. Ele é um observador especial da dança de Minas, pois trocou São Paulo pela capital mineira há quatro anos. “O movimento da dança em Minas é um dos mais fortes do país e tem como base artistas inquietos, questionadores, curiosos. Meu lugar hoje é Minas”, diz.
MÚSICA DO CORPO
Vanilton Lakka, destaque jovem da mostra, criou e interpreta o solo Interferência Inacabada… Preste Atencão no Ruído ao Fundo. Para repensar os limites entre dança e música, ele traz o DJ Fernando Prado para o palco. Ele vai captar os sons produzidos pelo corpo de Lakka e o que mais estiver no palco, como bancos e copos. Na segunda parte do espetáculo, o bailarino improvisa em cima dos sons criados por ele e mixados pelo DJ. A presença de Lakka no Panorama é retrato de outro mérito do momento da dança de Minas. Por opção e política, o artista resolveu continuar em Uberlândia, sua cidade natal. Sim, já dá para viver de e para a dança fora da capital. Boas notícias assim também vêm de lugares como Juiz de Fora e Ipatinga, sede da Hibridus Cia. de Dança.
Além de contar com estrutura e apoio cultural, conquistados ao longo da última década — e não somente por meio das leis de incentivo —, a dança em Minas se fortalece com o FID, Fórum Internacional de Dança, que completou 10 anos em 2006, e com o surgimento de novos coreógrafos. Parte dessa trupe saiu de grandes grupos de dança, casos de Rodrigo Quick e Tuca Pinheiro, ex-Corpo e 1º Ato, respectivamente. Tuca é um profissional premiado por trabalhos em diferentes companhias e leva seu talento em maio/07 para a Alemanha, onde dará cursos num centro de formação para coreógrafos. No Panorama do Sesi ele coreografa e interpreta Do Contrário Assim Seria o Mesmo, com o Meia Ponta Cia. de Dança. A idéia da diretora Marisa Monadjemi era falar do amor. Tuca e os bailarinos acabaram criando um espetáculo sobre a ausência dele nas relações. Dançam a solidão, a dor de cotovelo, o desejo de amar.
Completam o panorama três espetáculos de São Paulo. O criador Sandro Borelli, eleito o melhor na categoria dança pelo 2º Prêmio Bravo! Prime de Cultura, comemora os dez anos de sua companhia com o espetáculo Kafka in Off. Soprar as velas de uma década de produção independente já é motivo para celebração. A experiente Zélia Monteiro, discípula de Klaus Viana, traz o solo Improvisações para Música e Dança. Entre as presenças paulistas, a da Cia. Siameses repete o exemplo das colegas mineiras no misto de grupo jovem que apresenta trabalhos maduros. Fundada em 2005 por Maurício de Oliveira, que passou dez anos entre Alemanha e Holanda, a companhia já é considerada destaque na cena paulista. Como panorama da dança moderna, nada melhor do que reunir grupos experientes e boas surpresas no mesmo palco, em apresentações gratuitas. O café com leite tem tudo para ser um sucesso.
Panorama Sesi de Dança
Teatro Popular do Sesi — av. Paulista, 1.313, São Paulo, SP,
tel. (11)3146-7405. De 9 a 18/2/07 (não há espetáculo no dia 12).
Terça a sábado, às 20h; domingo, às 19h. Grátis.
(in www.bravoonline.com.br)
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